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24 agosto 2020

A teoria ator-rede e a relação humanos-objetos

Como considerar a partir da perspectiva da análise social a relação dos objeto na nossa vida social?

Por muito tempo a sociologia se ausentou desse tipo de discussão, tomando como pressuposto a separação entre aquilo que é humano e aquilo que é não-humano, privilegiando a perspectiva do humanismo e a sociedade como afastada/ apartada do restante das questões do mundo dos objetos, ou dos animais, por exemplo.

Bruno Latour afirma que essa atitude ou não-atitude por parte da sociologia tem muito a ver com o próprio processo de construção da sociologia, da antropologia, das ciências humanas que precisava afirmar-se e construir o seu argumento no sentido de mostrar a importância desse campo de estudo que estava surgindo, mas por outro lado também é parte de um viés que acabou ocorrendo na construção da sociologia enquanto ciência. 

Esta proposta tem a ver com o embate entre uma sociologia mais integrada ao todo, postulada por Gabriel Tarde em contraposição ao que chamamos de supremacia da sociedade, por Émile Durkheim, Sabemos que a interpretação de Durkheim foi a que ficou em exercício, é ela que estabelece a sociedade como índice superior, estabelece também o dualismo humano-natureza. Essa visão tem sido revista devido a quantidade de aparatos tecnológicos que podem estar a nossa disposição e com essa oferta, a necessidade de refletirmos o papel dos objetos nas nossas vidas.

É por isso que a teoria ator-rede, encabeçada por Latour e seus seguidores é um ingrediente importante para entendermos como isso pode ser reinterpretado. A teoria-ator rede permite uma nova maneira de enxergar os objetos totalmente integrados ás nossas práticas, construindo o que chamamos de cadeia sóciotécnica que envolve as nossas ações enquanto humanos as práticas sociais e os usos desses objetos que por sua vez também moldam, transformam e redefinem os nossos campos de ação. 

O que isso quer dizer? 

Que os objetos não são vistos como inertes ou apenas conferindo significados sociais ou apenas enquanto bens ou mercadorias. Os objetos possuem um papel fundamental, essencial na configuração de uma estrutura de ação que nos permite agir de determinadas formas ou de outras. 

Conceber os objetos a partir dessa experiência significa colocá-los lado a lado a nós humanos. Sem eles, nossas ações seriam outras.

Muitas vezes os objetos trazem consigo a possibilidade de acelerar nossas práticas, tornando-as muito mais fáceis do que seria possível caso não existissem. Proporcionam uma comunicação muito menos truncada, envolvendo muito menos elementos no caminho, numa cadeia. 

Todo processo de comunicação existente envolve uma série de atores, processos e uma rede/cadeia imensa de objetos. Esses objetos nos permitem alçar posições e realizar práticas de forma mais rápida. Os objetos nos ajudam a redefinir os nossos campos de ação e criar realidades, portanto é necessário colocar essa perspectiva em evidência. Não digo sobre olhar para os objetos literalmente, mas trazer para o cotidiano essa cadeia de associações entre humanos-objetos para tentarmos compreender de que forma essa rede se configura.

Vale ressaltar que uma cadeia sociotécnica envolve discursos, coisas materiais e imateriais, imaginário ou mesmo eventos.

É uma relação muito menos uni ou bidimensional, mas tridimensional ou multidimensional na qual podemos acessar fios que vão compor uma prática social a partir dessas descrições, dos objetos, das ferramentas e dos usos desses artefatos.

Essa perspectiva desloca e coloca os objetos nos holofotes levando as pessoas repensarem a noção de busca eterna de eficiência e produtividade humana, pois os objetos não somente nos permitem criar nossos fluxos de ação, mas possibilitam entendermos melhor as razões pelas quais agimos ou não de determinadas formas no mundo. Também são elementos cruciais na conformação da sociedade tal como ela esta hoje e das formas como agimos. 

Portanto é de suma importância estudarmos o papel de outros seres e elementos não-humanos incorporando as nossas práticas sociais.


A teoria ator-rede e a relação humanos-objetos por Claudia Sciré